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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Perfume - Uma história com milênios (Parte 2)

Durante a Alta Idade Média, a utilização do perfume vai cair em desuso, não só pela desorganização econômica que então se viveu, mas também pelo estilo de vida mais austero da sociedade ocidental.As Cruzadas vão reavivar o interesse pelo perfume, com os cavaleiros a trazerem para a Europa os aromas exóticos desenvolvidos pelos Árabes. Os Árabes eram nessa altura possuidores de uma florescente indústria de perfumes, com conhecimentos provavelmente herdados dos Persas. Detinham o monopólio comercial em todo o Próximo e Médio Oriente e foram eles os inventores do alambique, que permitiu uma nova forma de destilação. No século X, o famoso físico árabe Avicena descobriu o processo de destilar o óleo das pétalas de rosas. Esta essência, diluída em água, torna-se a água de rosas, o primeiro perfume moderno.
Também por essa altura, inventa-se o álcool, que irá revolucionar a indústria dos perfumes. O primeiro perfume com álcool, o "Água da Hungria", surge em 1370, e deve o seu nome à rainha Isabel da Hungria.
No final século XII, em França, o rei Filipe Augusto autoriza a constituição da corporação dos luveiros-perfumistas em Grasse. Esta associação das luvas com o perfume faz um certo sentido, pois o processo de curtição das peles não era o mais adequado, e os luveiros eram obrigados a servir-se do perfume para disfarçar o mau cheiro do couro. Durante os próximos séculos, será Grasse a capital europeia do perfume, e ainda hoje conserva essa antiquíssima tradição.
No século XIV, o flagelo da Peste Negra descobre outra utilidade para o perfume, com algumas fragrâncias a prometerem protecção para a epidemia. Os mais ricos sentiam-se assim mais protegidos, mas nem por isso morriam em menor número.
Com o Renascimento, vulgariza-se de novo a utilização do perfume, que começa a ganhar a dimensão de um produto de grande consumo. Os hábitos de higiene é que são cada vez mais descurados, e o aroma do perfume utiliza-se para disfarçar os maus odores. Na época barroca achava-se inclusivamente desnecessário o banho, uma vez que a existência do perfume permitia dispensá-lo. Para o mau hálito, receitava-se a ingestão de anis, funcho e cominho logo ao pequeno-almoço, e cardamomo e alcaçuz se a intenção fosse seduzir uma jovem. Os cabelos podiam ser aromatizados com a ajuda de almíscar, cravo-da-índia, noz-moscada e cardamomo.
No final século XVIII, o perfume começa a ser associado à sedução e até mesmo ao erotismo, e, já século XIX, a história deste produto passa a caminhar lado a lado com a da moda, numa parceria que se mantém até hoje. A própria literatura reflecte a importância social do perfume, e não há donzela que se preze que não deixe ao seu amado um lenço perfumado.
No final do século XIX, com o desenvolvimento da indústria química, multiplicam-se as fragrâncias e começam a aparecer os aromas sintéticos, que simulam os naturais e permitem embaratecer o produto, tornando-o acessível a cada vez mais pessoas.
Nos loucos anos 20 do século XX aparece a primeira grande marca de perfumes, o Chanel nº 5, resultado de uma equilibrada combinação de rosas, jasmim e aldeídeos. O Chanel nº 5 representa igualmente uma ruptura com os anteriores métodos de fabrico e comercialização do perfume: o frasco ganha cada vez mais importância, e a imagem associada ao perfume torna-se tanto ou mais importante que o seu conteúdo.
A partir daqui, uma história de sucesso imparável. Hoje há perfumes para todos os gostos, idades, estados de espírito e condições meteorológicas, numa indústria que movimenta milhões de euros, mas que deixa muitos narizes felizes.

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